E se der certo?

Nunca foi tão fácil escrever quanto quando não tinha ninguém lendo. Eu lembro no começo como as palavras fluíam e eu não tinha nenhuma preocupação. Escrevia vários textos por semana, e o Gabriel (minha dupla nesta newsletter) sempre comentava o quanto eu parecia inspirada.
Semana passada, no telefone com meu pai, ouvi minhas nóias nas palavras dele: “algumas newsletters são muito boas, outras nem tanto, parece que você está só enchendo linguiça, sabe?” Sei.
Na hora, respondi para ele o que já me disse infinitas vezes: nem todo trabalho é nosso melhor trabalho. Eu tento me convencer disso e pensar em todas as coisas boas que nem sempre são tão boas, mas, ainda assim, até que ponto eu aceito essa verdade?
Hoje, eu penso mil vezes antes de publicar qualquer coisa. Será que alguém vai pensar que sou ingrata? Que sou amargurada? Que só reclamo? Será que vão entender as coisas que expresso aqui?

Uma vez, outra pessoa também disse em voz alta um grande medo meu. O telefone sem fio começou na minha madrinha, que disse para a minha mãe, que me disse que uma amiga (da minha madrinha) disse que eu devia ter algum problema com meu pai. Na hora gelei. Por que minha mãe estava me dizendo isso? Eu sempre sou bem clara quanto a minhas questões com meu pai e como nosso relacionamento é complicado, mas cheio de amor.
Porque no fim, meu maior medo é machucar quem eu amo fazendo o que eu amo. Quantas vezes a escrita em primeira pessoa foi pivô de irmãos que pararam de se falar, mães e filhas, pais e filhos? O quão dispostos estamos a arriscar pela vida que queremos viver?
Até aqui eu tenho tido muita sorte de ter o apoio não só da minha namorada, minha editora e maior incentivadora, como também dos meus personagens mais complexos: meus pais e minha irmã. Porém, é inevitável reconhecer que, quanto mais pessoas me lerem, mais opiniões diferentes terei sobre meu trabalho e, consequentemente, minha vida.
Até porque, aqui é um espaço em que só eu escrevo e conto a minha versão do que vivi. Cada um recebe e percebe o mundo com a sua bagagem. A mesma história seria contada de um jeito por mim, outro pela minha irmã, outro pela minha mãe e outro pelo meu pai, por exemplo.
O medo de dar errado é enorme, mas talvez, lidar com as consequências se tudo der certo (seja o que for isso), pareça ainda mais assustador.
E para finalizar, um obrigada especial ao meu amigo Gabriel Barros que ilustra com tanta sensibilidade o que trago em palavras. <3
Tem algo muito especial no que você escreve. Às vezes, a gente nem sabe o quanto precisava ler algo até encontrar suas palavras. Continua s2
Pode ter certeza: sempre tem alguém que pode aprender algo com o que vc escreve ❤️