
Morro de medo de olho gordo. Desde criança escuto sobre como mau olhado é perigoso e já ouvi até de um benzedor que a causa da minha depressão era a inveja alheia. Com as redes sociais, é óbvio que ninguém quer se postar chorando e sim, compartilhar as coisas legais, bonitas, boas e divertidas. Todo mundo é invejável.
A Fabi tem o namorado super dedicado. A Cláudia já está no doutorado. A Gabi faz residência médica no exterior. A Luana tem muito sucesso profissional. Ninguém sabe como a Maria viaja tanto. O corpo da Beatriz é perfeito. A Helena é apaixonada pela sua família e a Manuela tem noivo e casa própria aos 25.
Meu maior medo é me verem assim. Não porque eu não reconheço tudo que tenho e quantos privilégios sou sortuda o suficiente para viver, mas porque não quero ser desumanizada. Eu não quero que pensem que minha vida é perfeita, minha família é harmônica, que meu relacionamento é maravilhoso, que minha vida profissional está bem encaminhada e por aí vai porque nada disso é verdade.
Escutei a vida inteira o quanto esse sentimento é negativo. É feio, vergonhoso e devemos ao máximo nos afastar das pessoas que o sentem, mas posso falar? Eu sinto inveja, eu morro de inveja.

Eu sinto inveja quando vejo alguém da minha idade bem sucedido, quando estou no TikTok e com vídeos como “coisas que meu namorado fez por mim” e são sempre muito “uau”, por exemplo fazer café na cama todo dia ou cuidar de todos os serviços domésticos (tópico sensível no meu relacionamento), quando alguém tem um grupo de amigos ou os amigos dessa pessoa fazem algo muito incrível. Quando um casal de mulheres tem um bebê, quando assisto todas as comidas saudáveis que uma influenciadora come em um dia e por aí vai.
É natural querer o que é do outro porque não fazemos a menor ideia da realidade alheia. Se soubéssemos, talvez nem desejássemos mais. Eu já senti inveja da minha namorada: tão determinada, decidida e dedicada. Do meu pai, que construiu tudo do zero. Da minha mãe, que não se preocupa com tantas coisas porque as resolvemos para ela. Da minha irmã, que é tão linda. Até do meu gato porque ele passa o dia dormindo, comendo e recebendo carinho. Mas será que eu trocaria de vida com alguma dessas pessoas?
Esses dias, a Nátaly Neri postou um vídeo em que fala sobre sentir inveja do seu marido e como isso a levava até a (inconscientemente) sabotá-lo. A questão nunca é o que sentimos e sim, o que fazemos com isso. Sentir é natural, inevitável, enquanto nossas ações estão sob nosso controle.
A maldade da inveja mora aqui: quando você tenta diminuir esse outro projetando nele suas inseguranças, como “nossa, mas eu jamais conseguiria me casar tendo namorado a mesma pessoa a vida inteira” ou “por que você não desiste? Eu não teria paciência.”
O que eu tento fazer é ser honesta consigo e com o outro. Tentar entender porque me sinto mal com isso, o que eu quero e como isso não tem nada a ver com a outra pessoa, mas com minhas questões internas mal resolvidas.

Minha obsessão do momento tem sido o TikTok e a ideia de criar conteúdo como forma de promover minha newsletter, também. Lá, a propagação da vida perfeita vai ainda além do Instagram. É viciante ver a modelo que prepara pão e queijo do zero enquanto usa um look caríssimo e está toda maquiada. Quantas vezes a rotina dos sonhos viraliza? O desejo gera engajamento, mas existe tanta coisa atrás de um corte de 15 segundos a 2 minutos.
Eu, por exemplo, se faço mestrado no exterior é porque meu pai me ajuda financeiramente. Se levanto da cama diariamente e saio para treinar é porque tomo 4 remédios psiquiátricos que, novamente, só consigo comprar porque meu pai me ajuda financeiramente. Outra coisa que me auxilia? Fazer exercício todos os dias e o faço porque 1- tenho tempo (graças a não ter que trabalhar incansavelmente e gastar horas no transporte público) e 2- porque depois de anos consegui achar algo que gosto e me sentir bem o fazendo.
A gente tem que selecionar muito bem quem vamos acompanhar e em quem vamos nos espelhar. Quanto da vida do outro só acontece por que existem várias outras pessoas por trás?
E para finalizar, um obrigada especial ao Studio Bacali que mais uma semana ilustrou também o que eu sinto e trago aqui.
Isabella vh
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tu escreve mto bemmm
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