Já escolheu qual caminho seguir?
Escolhas, sucesso e a dificuldade de sustentar tudo isso.

Me da angústia pensar em todos os caminhos possíveis e da possibilidade de estar escolhendo uma rota medíocre diante de tanto que poderia ser feito, mas, ao mesmo tempo, me pergunto: o que é ser medíocre? Cada um tem sua definição de sucesso e muitas vezes coisas bobas para uns são feitos incríveis para outros.
Em alguns dias, sucesso para mim é levantar da cama cedinho e fazer exercício. Em outros, apenas levantar da cama eventualmente já tá bom. Às vezes, sucesso é cozinhar uma refeição e não pedir delivery, às vezes é terminar um livro que eu enrolei muito. Me sinto bem–sucedida quando penso que apenas um dos meus avós é formado no ensino superior e eu sou uma mestranda, ainda que me sinta desencontrada profissionalmente. Também me sinto bem-sucedida quando vejo que tenho 234 inscritos aqui. Quando pensamos em números de influenciadores nas redes sociais, parece pouco mas é gente que nem cabe em casa.
Ambição é uma qualidade (ou defeito) muito relativa. O que uns almejam é pouco para outros e vice versa. Meu pai, por exemplo, sempre brinca que sonha em dominar o mundo. Já eu, sonho em ser feliz e levar uma vida tranquila (para o desespero de Guguinha).
Talvez, saber o tamanho da sua ambição seja uma das coisas mais importantes para ter paz: o que realmente se quer e até onde está disposto a ir para conseguir isso? Agora, a resposta dessa pergunta (pra mim) é o maior enigma.
Penso diariamente naquele trecho de "A redoma de vidro” da Sylvia Plath que diz o seguinte:
“[…] Eu via minha vida se ramificando à minha frente como a figueira verde daquele conto. Da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. Um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era Ê Gê, a fantástica editora, outro era feito de viagens à Europa, África e América do Sul, outro era Constantin e Sócrates e Átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros que eu não conseguia enxergar. Me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés. […]”
Eu não sei quais seriam meus figos e qualquer coisa que gostaria que fossem me parece presunçosa. Ser uma surfista profissional (comecei tarde demais), ser uma escritora renomada (tenho esse talento?), ser uma influenciadora digital que pratica muitos esportes e ganha com isso (sem explicações aqui), ser dançarina da Pabllo Vittar ou sonhando mais alto da Beyoncé (ia odiar trabalhar à noite e agora tenho medo do Diddy colar), fazer psicologia e atuar na área (me falta paciência), não ter CEP e viver viajando o mundo (acho que a falta de rotina ia me fazer surtar), empreender e abrir uma livraria com um café gostoso que nem todas as que eu amava e fecharam (acho que a minha fecharia também), ser a dona de casa de uma família que vive numa casa grande com quintal, vários bixos e filhos saudáveis e felizes (me digam como), abrir uma escola com meu pai e fazer algo muito foda de transformação social enorme. Cansei só de pensar.
Esses dias li uma frase que me deixou bem reflexiva: “cada corpo no Monte Everest era uma pessoa muito motivada que acreditava em seu potencial.” E se eu for assim, ou pior, nem um nem outro?
Por muito tempo, minha depressão e talvez falta de autoestima só me fazia enxergar o agora (de forma dolorosa e pessimista) e levar a vida um dia de cada vez. Isso me dava conforto nos dias ruins (visto que eu só precisaria enfrentar até a hora de dormir) e jamais me trazia ansiedade diante de eventos da vida porque eu nunca tinha certeza que chegaria, de fato, ao dia de amanhã.
Bem, eu cheguei e agora é hora de escolher meu figo antes que ele caia podre diante de mim. Mas como não apenas decidir o que você quer como também ir atrás disso? Ver os caminhos e de fato percorrê-los? Honestamente, não sei.
Ei, se tu chegou até aqui e curtiu esse texto, que tal encaminhar esse e-mail para um amigo? Vai que ele também gosta e se inscreve e aí eu posso viver disso um dia e esse será meu figo escolhido. Pensando alto aqui.
E para finalizar, um obrigada especial ao Studio Bacali que fez um corre enorme para entregar essa ilustração (prometo que te mando ainda hoje o texto da semana que vem) <3
Isabella vh
esse texto me pega muito
sempre certeira - e meio vidente de pensamentos traduzidos em palavras. adorando essa leitura semanal!