
Meu algoritmo do Instagram é extremamente peculiar: diariamente recebo vídeos de mulheres divagando sobre qual o papel do homem e da mulher em um relacionamento, looks de crentes para ir à academia, modéstia como forma de respeitar Deus e até sobre ex-homossexuais (como se isso existisse) que se “curaram” com a religião. No começo, eu achava graça, mas agora já acho um pouco preocupante.
Se em 2017 a página “Quebrando o Tabu” era o auge da militância, hoje, além de piada, o discurso que bombardeia as redes é o oposto. O cara *tem que* pagar a conta, nós mulheres devemos ser femininas e os caras masculinos.
Era absurdo se pensar em publicar tantas coisas que hoje aparecem o tempo todo na timeline, como discursos que ofendem gratuitamente pessoas gordas, a glorificação do Ozempic e o consumo exagerado alinhado com o desperdício, como a quantidade de pessoas que compraram o perfume de waffle que viralizou por dar ânsia de vômito apenas para se gravarem tendo essa experiência.
Se antes era legal ser milituda, hoje ficou meio cafona. Se antes o feminismo liberal propagava o sonho e empoderamento de ser uma girl boss, hoje queremos ser apenas esposas troféu, sem vergonha nenhuma de admitir isso. Me choca a quantidade de meninas exaltando a magreza extrema e falando abertamente como querem alcançá-la.
Existem vários vídeos de donas de casa mostrando seu dia como esposa troféu. Se você precisa acordar cedo para fazer o café de alguém (ou até vários alguéns), cuidar de tarefas domésticas e dirigir seus filhos para lá e pra cá, você não é esposa troféu, é uma dona de casa. E isso é um trabalho que pode demandar até mais que uma carteira assinada em um escritório.
Mas, considerando as esposas troféus, as funções do cargo geralmente consistem em: aparição em eventos, aparência imaculada, corpo no padrão e apoio incondicional. Eu não acho que essas mulheres realmente querem ser esposas troféus, eu acho que elas apenas querem poder fazer o que querem na hora que querem. Um cara parece a forma mais fácil de acessar essa vida, mas no fim é apenas mais uma prestação de contas com outra pessoa. Eu não sei se essa vida parece tão legal assim.

Mesmo sem perceber, somos influenciados por esses discursos. Eu que sempre busquei minha independência às vezes me pego comparando meu relacionamento com esses formatos e os desejando. O famoso papo “quem é o homem e quem é a mulher da relação” acaba sendo reforçado e atingindo até quem não tem homem nenhum na relação.
Se a moda é circular, será que os comportamentos também são? Se atingimos agora o pico dessa onda, vamos começar a descer? Espero que sim.
No fim, não vivemos nada além de uma onda de conservadorismo com os velhos moldes sendo apresentados de forma repaginada. Não dá para viver um dia na internet sem tomar cuidado com o que se consome. Você quer mesmo um cara pagando tudo para você em troco de uma casa limpa, roupa lavada e comida na mesa? Não sei se essa conta fecha.
E para finalizar, um obrigada especial ao Studio Bacali que ilustra com tanta clareza o que trago em palavras. <3
Isabella vh
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👏🏻👏🏻👏🏻
muito bom!