
Semana passada, a temática da minha sessão de terapia foi minha vontade inconsciente e incontrolável de querer agradar todo mundo o tempo todo. Chegamos ao assunto enquanto ela analisava por que eu estava com tanto medo de me expor aqui. A conclusão foi o receio em ser taxada de todas as coisas que eu julgo ser e, consequentemente, alguém desagradável (chata, vai).
Minha psicóloga falou que não tem muito pra onde correr e eu disse para ela que nem Jesus agradou todo mundo então paciência, né. Também concluímos que seria muito chato se eu escrevesse menos do que penso e mais do que eu gostaria de pensar, mas se colocar tão abertamente vai ser sempre desconfortável e, talvez, isso seja a melhor parte do processo e dos textos em si.
Minha vontade de agradar atinge o nível de me sentir responsável pelos sentimentos alheios. Se alguém esbarra em mim, peço desculpas. Se ninguém está ouvindo o professor, faço questão de mostrar que estou prestando atenção (morro de pena). Estabeleço contato visual com todos os artistas de rua e jamais tenho coragem de dar feedbacks negativos (ainda que solicitados) em restaurantes. Não tenho coragem nem de trocar meu prato quando ele vem errado. Incomodar? Jamais.
Se você perguntasse à minha mãe, ela diria que meu verdadeiro vício é dizer não. Que nunca topo nada, não quero saber dos meus pais e não faço nada para agradá-los, apesar de trabalharmos juntas, almoçarmos juntas e eu tomar café da manhã com meu pai de segunda a sexta antes de ir treinar.
Na casa deles, o 'não' é um sinal de desamor, dos menores aos maiores gestos. Meu pai diz que não o amo quando não pego uma água na cozinha e também o diz quando não pratico o mesmo esporte que ele (em minha defesa eu até tentei). É muito drama.

Eu nunca digo 'não' diretamente ao meu pai, sempre invento uma desculpa. Já tenho um compromisso, tô sem tempo, preciso estudar ou qualquer outra coisa que não seja o simples “dessa vez prefiro não ir, obrigada”. Infelizmente para alguns e felizmente para outros, talvez amadurecer seja saber exatamente quais limites impor e como se posicionar diante das maiores figuras de autoridade das nossas vidas: pai e mãe. Entender também que os únicos responsáveis agora por nossos sentimentos, traumas e frustrações somos nós. Já aconteceu, então agora, como lidaremos com eles?
Minha namorada também diria que sou viciada em nãos, mas, neste caso, ao contrário do anterior, vem do conforto da intimidade. Me sinto segura em seu amor para negar o que me deixa desconfortável ou simplesmente não quero. E acho que tem que ser exatamente assim dos dois lados.
Se tem uma coisa que deixa minha amada de pá virada é quando eu a jogo na fogueira em eventos familiares. Como quando estamos jantando com os meus pais e ela me pede discretamente para ir embora na expectativa de que eu diga que *eu* quero ir embora. A realidade é que falo baixinho para minha mãe que a Lele quer ir embora e minha mãe fala alto para a mesa inteira “vamos gente que a Letícia quer ir embora!!!” Se fosse ela, também ficaria com ódio de mim.
É muito esquisito eu não me sentir bem nem para falar para os meus próprios pais que quero ir embora, mas pensar no momento de interromper a conversa para dizer que quero me retirar me traz uma ansiedade enorme, uma agonia. Acho que, na minha cabeça, eles vão se sentir rejeitados e quero proteger seus sentimentos a todo custo. Pior que isso só a vez em que a Letícia estava com fome e eu, rata no lugar de mulher, disse para a mesa inteira que precisávamos pedir logo porque a coitada estava esfomeada.

Será que isso está relacionado em ser a primeira filha? Em disputar a atenção dos pais com um bebezinho ao ter irmãos? Em receber muitas expectativas e esperanças e querer corresponder todas elas? Se certificar de que todo mundo está bem antes mesmo de saber quais são as suas próprias necessidades?
Tenho muita dificuldade nas minhas sessões de psicóloga e psiquiatra porque nunca sei o que quero ou o que estou sentindo visto que dificilmente coloco meus sentimentos e vontades em primeiro lugar, sou sempre a pessoa que fica tentando encontrar um meio termo que agrade todo mundo e isso é impossível. Nesses momentos, sempre me ressinto com a pessoa que impõe mais suas vontades (geralmente a Letícia). Isso deve acontecer porque eu gostaria de ser mais assim, e não consigo.
O que eu quero? Não sei. O que tá bom? Qualquer coisa. Pode ser? Pode. Tá bom? Tá sim (não tá). Onde me vejo daqui 5 anos? Viva?
Talvez eu tenha internalizado que o amor é fazer as vontades do outro e que amar é entregar o que querem de mim na hora que querem. Como não sou inocente, também espero que as pessoas que me amam leiam minha mente e ajam como eu gostaria que agissem. Haja terapia para entender a importância de me conhecer, expressar o que eu quero e o que eu não quero e dizer meus incômodos visto que ainda não encontrei nenhum telepata para me relacionar. Se bem que isso não duraria um dia.
E para finalizar, um obrigada especial ao Studio Bacali que tão lindamente se dispôs a ilustrar esse texto <3
Isabella vh
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"Haja terapia para entender a importância de me conhecer, expressar o que eu quero e o que eu não quero e dizer meus incômodos visto que ainda não encontrei nenhum telepata para me relacionar. Se bem que isso não duraria um dia." sem mais palavras, é isso !!!! me identifiquei com cada palavra, cada vírgula.
Não me sinto mais uma et no mundo depois dessa haha